sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Mercadoria ganha vida própria.


Postagem de Leonardo Dlugokensky no site infoescola comenta o fetichismo da mercadoria e destaca que a mercadoria perde relação com o trabalho e ganha vida própria. Segue ilustração e trecho do artigo.

"Marx em sua obra máxima intitulada “O Capital”, nota que a mercadoria (manufatura) quando finalizada, não mantinha o seu valor real de venda, que segundo ele era determinado pela quantidade de trabalho materializado no artigo, mas sim, que esta, por sua vez adquiria uma valoração de venda irreal e infundada, como se não fosse fruto do trabalho humano e nem pudesse ser mensurado, o que ele queria denunciar com isto é que a mercadoria parecia perder sua relação com o trabalho e ganhava vida própria."
http://www.infoescola.com/filosofia/o-fetichismo--mercadoria-na-obra-de-karl-marx/

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Dinheiro. A forma suprema do fetichismo.


O blog “Anarko-Ideais”, de Matheus Darrieux Anarko, transcreve um texto e ilustração provocativos sobre o dinheiro. Segue um trecho que o classifica como “totemismo objetivado e secularizado da modernidade”.


"O dinheiro, como uma das muitas formas do fetichismo, existe em todas essas sociedades, mas ainda não possui a função geral de representar a socialização inconsciente, que adota outras formas. Somente na modernidade assume o dinheiro definitivamente essa função. Por isso, pode ser designado como totemismo objetivado e secularizado da modernidade."

Íntegra em:
http://anarko-ideais.blogspot.com.br/2012/07/fetichismo-da-mercadoria.html

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O fetichismo da mercadoria fé.


Um texto relevante de Alexandre Gomes – reproduzido no blog “O Espiritualismo Ocidental” – revela como o conceito de fetichismo da mercadoria, criado por Marx, é “um dos mais úteis para se compreender a realidade do mundo pós-moderno, apropriadamente chamado de sociedade de consumo.” Segue a ilustração e um pequeno e estimulante trecho:



 “O conceito de fetichização dos bens culturais, tal como é desenvolvido em Adorno, talvez forneça uma pista importante para se compreender também outros aspectos da sociedade pós-moderna: Até que ponto não é possível falar, por exemplo, de uma fetichização da fé, transformando a salvação em mera mercadoria e a apreciação das palavras reveladas como um setor específico da indústria de espetáculos?
Consumiria-se pregações assim como se consome a música da moda na FM, não pelo valor intrínseco da mensagem, pelo prazer e reflexão que ela proporcionaria, mas da mesma forma como se consome um iogurte ou se veste uma roupa de grife.”
Íntegra do texto em
http://oespiritualismoocidental.blogspot.com.br/2011/03/salvacao-como-mercadoria-e-espetaculo.html


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Fetichismo da mercadoria. Imagens e frases.



Algumas imagens  e frases postadas por Maria Teresa em “Cultura y Sociedad 398”

 En la sociedad de mercado la gente se vincula a través de la mercancía, con lo cual éstas adquieren características mágicas, esto es lo que Marx llama Fetichismo de la mercancía
 En el capitalismo las cosas adquieren propiedades humanas (se dice por ejemplo: “los mercados se tranquilizan”, “sube el dólar”) mientras que las personas se vuelven objetos, se cosifican.




Integra em:
http://eem398.wordpress.com/2008/09/22/fetichismo-de-la-mercancia-plusvalia-marx/


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Consumismo e Fetichismo.


Selecionei um trecho de artigo de Eustáquio de Carvalho Sant’Ana que analisa o fenômeno do consumismo à partir dos pressupostos do fetichismo da mercadoria, elaborados por Marx, no volume 1 do Capital. A tese está alinhada com a proposta deste blog, que causou arrepios em marqueteiros amigos – a de que Marx antecipou o marketing, em pleno século 19. Segue também a criativa ilustração do artigo.


“Logo, o que Marx quer dizer com fetichismo da mercadoria, é o fato do produto exercer um controle – sobrenatural até - sobre o comprador. Muito além daquele do valor de uso, ou seja, a finalidade a que se destina o produto. O sujeito pode comprar uma calça jeans Fórum não pela simples necessidade de vestir o corpo, mas muito mais, enquanto uma possibilidade de satisfazer seus desejos refletidos através do significado da calça Fórum. Muito mais que cobrir o corpo nu, o comprador vê a calça enquanto um meio para satisfação dos seus desejos de atração, de identidade, de sensualidade, de ascensão social, etc. Esse é apenas um exemplo de uma lista que pode ser extensamente indefinida. Mas a calça jeans Fórum de nada significa para o sujeito se não houvesse por trás, toda propaganda do fabricante que transmite seus horizontes aos destinatários.”

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Fetiche, Steve Jobs e Marx.



Vale conferir essa postagem original de Ticiano Sampaio, Íntegra em

Nessa época em que a propaganda está decisivamente adotando as mídias sociais, os produtos da Apple estão à frente de todos os outros. Não por força de um trabalho de social media, mas por força de um trabalho prévio, realizado pelo próprio Jobs, que sabe como ninguém mexer com a fetichização da mercadoria, numa acepção tão forte que talvez não fosse imaginada nem por Marx quando inicialmente trabalhou o conceito.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Oscar Niemeyer e o comunismo como valor.


Neste 5 de dezembro, em que o Brasil recebe a notícia da morte do genial Oscar Niemeyer, fica o registro de um texto de Leonardo Boff, com o titulo acima.

“Apesar dos abatimentos nacionais e internacionais deste agônico 2007, tivemos, no dia 15 de dezembro, uma discreta alegria: os cem anos de nosso maior arquiteto Oscar Niemeyer. Sua voz suave e cansada nos conclama para a solidariedade e para uma grande simplicidade de vida. 

Sua visão de mundo se funda no comunismo, ao qual foi fiel durante toda a vida, em tempos em contratempos,.
Mas trata-se de um comunismo como valor  ético que visa a resgatar da sociabilidade humana, a capacidade de sentir o outro e de caminhar com ele como companheiro e não como competidor. "É preciso olhar o outro, ser solidário; as pessoas que só pensam em suas profissões não vêem a pobreza; só querem ser vencedores".
Para ele o importante "não é ser arquiteto, ser especialista, ser mundialmente reconhecido. O importante é a vida e a amizade. A palavra mais importante da minha vida é solidariedade".
    
Essa solidariedade especialmente para com os pobres, o torna simples como simples são as suas formas arquitetônicas. Vive a verdadeira humildade de quem comunga do mesmo húmus (donde vem humildade):"todo mundo é igual; a pessoa vem à Terra, conta a sua historinha e vai embora". 
    

Nunca esquecerei uma longa conversa com ele durante um almoço em Petrópolis no final dos anos 70. Naquele dia acabava de retornar de Cuba. Eram ainda os tempos de relativa abundância, antes da queda da  União Soviética. Contava-lhe como era universal o sistema de saúde, como o ensino era aberto a todos, independentemente de sua extração social ou racial, como não se viam favelas na ilha  e como a população incorporara uma vida de austeridade compartilhada.
E referi-lhe as longas conversas com Fidel, noite a dentro, sobre religião e a teologia da libertação que tentava e ainda tenta fazer  do Cristianismo uma força de transformação histórica contra a pobreza e a marginalização social. Dizia-lhe citando Frei Betto: "Cuba parece uma Bahia que deu certo". Vi que Oscar ouvia tudo atentamente e seus olhos brilhavam de satisfação.


Qual não foi a minha surpresa quando dias após li na Folha de São Paulo um artigo dele sobre a nossa conversa com um desenho de sua autoria: duas montanhas uma das quais encimada por uma cruz. E lá dizia: "descendo a serra de Petrópolis, eu que não creio, rezava ao Deus de Frei Boff, para que aqueles benefícios que Cuba realizou para o seu povo, chegassem também, um dia,  ao povo brasileiro". 


domingo, 18 de novembro de 2012

Fetichismo. Frases, imagem e som.


Vamos interromper a sequência,  relativamente árida, da transcrição do Capital e relacionar algumas frases, uma imagem e um som muito criativos sobre o tema do fetichismo da mercadoria, colhidos aleatoriamente na internet.
A imagem:

O Som ( do DJ Chico Machado):
As frases
“Segundo Marx, o fetichismo é uma relação social entre pessoas mediatizada por coisas. O resultado é a aparência de uma relação direta entre as coisas e não entre as pessoas. As pessoas agem como coisas e as coisas, como pessoas.”
“Desse fetichismo que se dá na produção e na troca de mercadorias resulta a sobrestimação teórica do processo de troca sobre o processo de produção. Daí o culto ao mercado de parte de alguns economistas, que consideram a oferta e a procura como as determinações fundamentais do preço das mercadorias.”
“O fetichismo da mercadoria revela-se com maior intensidade no dinheiro, que se apresenta nas relações sociais, dotado de uma força sobrenatural que proporciona poder a seus possuidores.”


sábado, 17 de novembro de 2012

O Fetichismo da mercadoria e o seu Segredo.Parte 4


Esta 4ª parte abre com a afirmativa da postagem anterior: “Somente com o tempo o homem procurará decifrar o sentido do hieróglifo, penetrar nos segredos da obra social para a qual contribui, pois a transformação dos objetos úteis em valores é um produto da sociedade, tal como o é a linguagem”. E encerra com a afirmativa “Mas quando os produtores destas mercadorias as relacionam ao tecido - ou ao ouro ou à prata, o que vem a dar no mesmo -, como equivalente geral, as relações entre os seus trabalhos privados e o conjunto do trabalho social [global] aparecem-lhes precisamente sob esta forma absurda”.
“Somente com o tempo o homem procurará decifrar o sentido do hieróglifo, penetrar nos segredos da obra social para a qual contribui, pois a transformação dos objetos úteis em valores é um produto da sociedade, tal como o é a linguagem.
A recente descoberta científica, de que os produtos do trabalho, enquanto valores, são [objetiva] pura e simplesmente a expressão do trabalho humano gasto na sua produção, marca uma época na história do desenvolvimento da humanidade, mas não dissipou de modo algum a fantasmagoria que faz aparecer o caráter social do trabalho como uma qualidade das coisas, dos próprios produtos. O que é verdadeiro apenas para esta forma particular de produção, a produção mercantil —; a saber, que o caráter [especificamente] social dos mais diversos trabalhos [privados, independentes uns dos outros], consiste na sua igualdade como trabalho humano, e reveste uma forma objetiva, a forma-valor dos produtos do trabalho -, isso parece aos olhos dos homens imersos nas engrenagens das relações da produção de mercadorias, hoje como antes daquela descoberta, tão definitiva e tão natural como a forma gasosa do ar que permaneceu idêntica mesmo depois da descoberta dos seus elementos químicos.
O que na prática interessa em primeiro lugar aos que trocam produtos é saber que quantidade [de produtos alheios] é que obterão em troca dos seus produtos, isto é, as proporções em que eles se trocam. A partir do momento em que estas proporções passaram a ter uma certa fixidez, produzida pelo hábito, elas parecer-lhe-ão provir da própria natureza dos produtos do trabalho. Parece existir nessas coisas uma propriedade de se trocarem em proporções determinadas, tal como as substâncias químicas se combinam com proporções fixas [;por exemplo, uma tonelada de aço e duas onças de ouro têm igual valor, tal como uma libra de ouro e uma libra de ferro têm igual peso, apesar das suas diferentes qualidades físicas e químicas] .
De fato, o caráter de valor dos produtos do trabalho só se fixa quando eles se determinam como grandezas de valor. Estas últimas mudam sem cessar, independentemente da vontade e das previsões [e das ações] daqueles que trocam mercadorias, aos olhos de quem o seu próprio movimento social toma assim a forma de um movimento de coisas, movimento que os dirige em vez de serem eles a dirigi-lo.
É necessário que a produção mercantil se tenha completamente desenvolvido, para que da própria experiência decorra esta verdade científica: - que os trabalhos privados executados independentemente uns dos outros, mas inteiramente interdependentes como ramificações espontâneas do sistema da divisão social do trabalho, são constantemente reduzidos à sua medida socialmente proporcional. E porquê? Porque nas relações de troca, acidentais e sempre variáveis, dos seus produtos, o tempo de trabalho social necessário à sua produção impõe-se forçosamente como lei reguladora natural, tal como a lei da gravidade se faz sentir a qualquer pessoa quando a sua casa desaba sobre a sua cabeça.
A determinação da grandeza de valor pela duração do trabalho é, portanto, um segredo escondido sob o movimento aparente dos valores [relativos] das mercadorias; mas a sua descoberta, mostrando embora que a grandeza de valor não se determina ao acaso, como poderá parecer, não faz com isso desaparecer a forma que representa esta quantidade como uma relação de grandeza entre as coisas, entre os próprios produtos do trabalho.
A reflexão sobre as formas da vida social, e por conseguinte a sua análise científica, segue um caminho completamente oposto ao do movimento real. Começa depois dos fatos consumados, já com os resultados do processo de desenvolvimento. As formas que imprimem aos produtos do trabalho a marca de mercadorias e que por isso são pressuposto da sua circulação, possuem, também elas, já a fixidez de formas naturais da vida social, antes que os homens procurem dar-se conta, não do caráter histórico destas - que, pelo contrário, se lhes apresentam já como imutáveis -, mas do seu sentido último.
Assim, foi somente a análise do preço das mercadorias que conduziu à determinação da grandeza do valor, e somente a comum expressão das mercadorias em dinheiro levou à fixação do seu caráter de valor. Ora, é precisamente esta forma acabada do mundo das mercadorias, a sua forma-dinheiro, que, em vez de revelar, dissimula o caráter social dos trabalhos privados e as relações sociais entre os produtores. Quando digo que o trigo, um fato, botas se relacionam com o tecido como encarnação geral do trabalho humano abstrato, a falsidade e o absurdo desta expressão salta logo à vista. Mas quando os produtores destas mercadorias as relacionam ao tecido - ou ao ouro ou à prata, o que vem a dar no mesmo -, como equivalente geral, as relações entre os seus trabalhos privados e o conjunto do trabalho social [global] aparecem-lhes precisamente sob esta forma absurda.”

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O Fetichismo da Mercadoria e o seu Segredo.Parte 3


Esta 3ª parte abre com a afirmativa da postagem anterior: :Para encontrar algo de análogo a este fenômeno, é necessário procurá-lo na região nebulosa do mundo religioso”. E se encerra com a afirmativa de que o valor não traz escrito na testa o que ele realmente é “Longe disso, ele transforma cada produto do trabalho num hieróglifo [social]. Somente com o tempo o homem procurará decifrar o sentido do hieróglifo, penetrar nos segredos da obra social para a qual contribui, pois a transformação dos objetos úteis em valores é um produto da sociedade, tal como o é a linguagem”.
 “Para encontrar algo de análogo a este fenômeno, é necessário procurá-lo na região nebulosa do mundo religioso. Aí os produtos do cérebro humano parecem dotados de vida própria, entidades autônomas que mantêm relações entre si e com os homens. O mesmo se passa no mundo mercantil com os produtos da mão do homem. É o que se pode chamar o fetichismo que se aferra aos produtos do trabalho logo que se apresentam como mercadorias, sendo, portanto, inseparável deste modo-de-produção.
[Este caráter fetiche do mundo das mercadorias decorre, como mostrou a análise precedente, do caráter social próprio do trabalho que produz mercadorias.]
Os objetos úteis só se tornam em geral mercadorias porque são produtos de trabalhos privados, executados independentemente uns dos outros. O conjunto destes trabalhos privados constitui o trabalho social [global]. Dado que os produtores só entram em contacto social pela troca dos seus produtos, é só no quadro desta troca que se afirma também o caráter [especificamente] social dos seus trabalhos privados. Ou melhor, os trabalhos privados manifestam-se na realidade como frações do trabalho social global apenas através das relações que a troca estabelece entre os produtos do trabalho e, por intermédio destes, entre os produtores. Daí resulta que para estes últimos, as relações [sociais] dos seus trabalhos privados aparecem tal como são, ou seja, não como relações imediatamente sociais entre pessoas nos seus próprios trabalhos, mas antes como [relações materiais entre pessoas e] relações sociais entre coisas.
Somente pela troca é que os produtos do trabalho adquirem, como valores, uma existência social idêntica e uniforme, distinta da sua existência material e multiforme como objetos úteis. Esta cisão do produto do trabalho, em objeto útil e objeto de valor, só teve lugar na prática a partir do momento em que a troca adquiriu extensão e importância bastantes para que passassem a ser produzidos objetos úteis em vista da troca, de modo que o caráter de valor destes objetos é já tomado em consideração na sua própria produção.
A partir desse momento, os trabalhos privados dos produtores adquirem, de fato, um duplo caráter social. Por um lado, como trabalhos úteis [determinados], devem satisfazer uma determinada necessidade social, afirmando-se portanto como partes integrantes do trabalho global, isto é, do sistema de divisão social do trabalho que se forma espontaneamente; por outro lado, só satisfazem as diversas necessidades dos próprios produtores, na medida em que cada espécie de trabalho privado útil é permutável - isto é, é equivalente a - qualquer outra espécie de trabalho privado útil. A igualdade de trabalhos que diferem toto coelo uns dos outros só pode consistir numa abstração da sua desigualdade real, na redução ao seu caráter comum de dispêndio de força humana, de trabalho humano abstrato, e é somente a troca que opera esta redução, pondo em presença uns dos outros, num pé de igualdade, os produtos dos mais diversos trabalhos.
O duplo caráter social dos trabalhos privados apenas se reflete no cérebro dos produtores sob as formas em que se manifestam no tráfico concreto, na troca dos produtos; [o caráter socialmente útil dos seus trabalhos privados, no fato de o produto do trabalho ter de ser útil, e útil aos outros; e o caráter social de igualdade dos diferentes trabalhos" no caráter comum de valor desses objetos materialmente diferentes os produtos do trabalho.]
Quando os produtores relacionam os produtos do seu trabalho a título de valores, não é que eles vejam neles um simples invólucro sob o qual se esconde um trabalho humano idêntico; pelo contrário, ao considerarem iguais na troca os seus diversos produtos, pressupõem com isso que os seus diferentes trabalhos são iguais. Eles fazem-no sem o saber. Portanto, o valor não tem, escrito na fronte, o que ele é. Longe disso, ele transforma cada produto do trabalho num hieróglifo [social]. Somente com o tempo o homem procurará decifrar o sentido do hieróglifo, penetrar nos segredos da obra social para a qual contribui, pois a transformação dos objetos úteis em valores é um produto da sociedade, tal como o é a linguagem.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O Fetichismo da Mercadoria e o seu Segredo.Parte 2


Esta 2ª parte abre com a pergunta da postagem anterior: “Donde provém, portanto, o caráter enigmático do produto do trabalho, logo que ele assume a forma-mercadoria?”. E se encerra com um encaminhamento para a resposta:Para encontrar algo de análogo a este fenômeno, é necessário procurá-lo na região nebulosa do mundo religioso”.
“Donde provém, portanto, o caráter enigmático do produto do trabalho, logo que ele assume a forma-mercadoria? Evidentemente, dessa mesma forma. A igualdade dos trabalhos humanos adquire a forma [objetiva da igualdade] de valor dos produtos do trabalho; a medida do dispêndio da força de trabalho humana, pela sua duração, adquire a forma de grandeza de valor dos produtos do trabalho; finalmente, as relações entre os produtores, nas quais se afirmam as determinações sociais dos seus trabalhos, adquirem a forma de uma relação social dos produtos do trabalho.
[O caráter misterioso da forma-mercadoria consiste, portanto, simplesmente em que ela apresenta aos homens as características sociais do seu próprio trabalho como se fossem características objetivas dos próprios produtos do trabalho, como se fossem propriedades sociais inerentes a essas coisas; e, portanto, reflete também a relação social dos produtores com o trabalho global como se fosse uma relação social de coisas existentes para além deles.]
É por este quiproquó que esse produtos se convertem em mercadorias, coisas a um tempo sensíveis e suprasensíveis (isto, é, coisas sociais) .Também a impressão luminosa de um objeto sobre o nervo óptico não se apresenta como uma excitação subjetiva do próprio nervo, mas como a forma sensível de alguma coisa que existe fora do olho.
Mas, no ato da visão, a luz é realmente projetada por um objeto exterior sobre um outro objeto, o olho; é uma relação física entre coisas físicas. Ao invés, a forma mercadoria e a relação de valor dos produtos do trabalho [na qual aquela se representa] não tem a ver absolutamente nada com a sua natureza física [nem com as relações materiais dela resultantes]. É somente uma relação social determinada entre os próprios homens que adquire aos olhos deles a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas. Para encontrar algo de análogo a este fenômeno, é necessário procurá-lo na região nebulosa do mundo religioso.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O fetichismo da mercadoria e o seu segredo.Parte 1.


Diversas postagens foram feitas, aqui neste espaço, sobre uma das descobertas mais fascinantes do velho Karl – o fetichismo da mercadoria. Reproduzi análises das mais diversas tendências. Inclusive, ousei afirmar que a tese é precursora do marketing – o que provocou a ira de alguns marqueteiros amigos. Assim, resolvi transcrever, nos próximos dias, a íntegra da Seção 4, do capítulo I do primeiro volume do Capital. Esta 1ª parte se encerra com uma questão que convida à leitura da sequência : “Donde provém, portanto, o caráter enigmático do produto do trabalho, logo que ele assume a forma-mercadoria?”.
A primeira vista, uma mercadoria parece uma coisa trivial e que se compreende por si mesma. Pela nossa análise mostramos que, pelo contrário, é uma coisa muito complexa, cheia de subtilezas metafísicas e de argúcias teológicas. Enquanto valor-de-uso, nada de misterioso existe nela, quer satisfaça pelas suas propriedades as necessidades do homem, quer as suas propriedades sejam produto do trabalho humano.
É evidente que a atividade do homem transforma as matérias que a natureza fornece de modo a torná-las úteis. Por exemplo, a forma da madeira é alterada, ao fazer-se dela uma mesa. Contudo, a mesa continua a ser madeira, uma coisa vulgar, material. Mas a partir do momento em que surge como mercadoria, as coisas mudam completamente de figura: transforma-se numa coisa a um tempo palpável e impalpável. Não se limita a ter os pés no chão; face a todas as outras mercadorias, apresenta-se, por assim dizer, de cabeça para baixo, e da sua cabeça de madeira saem caprichos mais fantásticos do que se ela começasse a dançar.
O caráter místico da mercadoria não provém, pois, do seu valor-de-uso. Não provém tão pouco dos fatores determinantes do valor. Com efeito, em primeiro lugar, por mais variados que sejam os trabalhos úteis ou as atividades produtivas, é uma verdade fisiológica que eles são, antes de tudo, funções do organismo humano e que toda a função semelhante, quaisquer que sejam o seu conteúdo e a sua forma, é essencialmente um dispêndio de cérebro, de nervos, de músculos, de órgãos, de sentidos, etc., do homem. Em segundo lugar, no que respeita àquilo que determina a grandeza do valor - isto é, a duração daquele dispêndio ou a quantidade de trabalho -, não se pode negar que essa quantidade de trabalho se distingue claramente da sua qualidade.
Em todas as épocas sociais, o tempo necessário para produzir os meios de subsistência interessou necessariamente os homens, embora de modo desigual, de acordo com o estádio de desenvolvimento da civilização. Enfim, desde que os homens trabalham uns para os outros, independentemente da forma como o fazem, o seu trabalho adquire também uma forma social.
Donde provém, portanto, o caráter enigmático do produto do trabalho, logo que ele assume a forma-mercad

domingo, 11 de novembro de 2012

O Marx esotérico.


O Congresso Re-Thinking Marx, realizado em Berlim de 20 a 22 de maio de 2011, mereceu uma extensa análise de Elmar Fiatschart. Selecionei um pequeno trecho em que ele comenta  participação de Wendy Brown e suas referências ao Marx “esotérico” e à conceitualidade religiosa na descrição do fetichismo da mercadoria.

“Uma surpresa foi a apresentação de Wendy Brown. Ela convenceu com uma referência profunda ao Marx “esotérico” e procurou fazer paralelos entre a crítica da religião como projeção das relações sociais e a dimensão projetiva do fetichismo da mercadoria. Ao contrário de muitos outros oradores, ela estabeleceu marcadamente a diferença entre a crítica do fetiche e o meramente ideológico – enquanto as ideologias são ideias falsas, as relações fetichistas baseiam-se numa lógica própria, bem fundamentada nas condições naturais, que produz projeções semelhantes às religiosas e impõe a distinção entre as dimensões analítica e crítica, física e teológica. Brown antepõe assim desde o início a um entendimento positivista da “tangibilidade” da mercadoria a dimensão reificada das relações sociais que levam à mercadoria. Para ela, portanto, a conceitualidade religiosa na descrição do fetichismo de Marx não é uma mera metáfora, mas representa uma necessidade heurística para poder compreender as relações sociais.”

domingo, 4 de novembro de 2012

O Sistema MKS ( Marx-Keynes-Schumpeter)


Um fato que sempre estimulou minha imaginação foi a coincidência (existe?)  de Schumpeter e Keynes terem nascido no mesmo ano da morte de Marx.

Schumpeter... Trieste, 8 de fevereiro de 1883

Karl Marx............Londres, 5 de maio de 1883

Keynes..........Cambridge, 5 de junho de 1883

Outra coincidência - Schumpeter também cursou direito.

Mas, o professor Richard Goodwin, da Universidade de Siena, foi um pouco além e criou um Sistema MKS (Marx-Keynes-Schumpeter) para inovar na teoria da evolução econômica. Para acessar a íntegra do artigo “Schumpeter, Keynes and the theory of economic evolution” acesse
www.vwl.tuwien.ac.at/hanappi/lehre/EvoEco/GoodwinChaos.pdf

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Carta de amor de Marx.


Decorridos treze anos de seu casamento com Jenny, Marx permanecia um apaixonado. O trecho de carta ao seu grande amor está registrado no texto “Marx e as mulheres”, da doutoranda da UFF Anna Marina Madureira de Pinho Barbara Pinheiro.
”(...) Eis que assomas diante de mim, grande como a vida, e eu te ergo nos braços e te beijo dos pés à cabeça, e me prostro de joelhos diante de ti e exclamo: ‘Senhora, eu te amo’. E amo mesmo, com um amor maior do que jamais sentiu o Mouro de Veneza. (...) Qual de meus muitos caluniadores e inimigos de língua viperina censurou-me, algum dia, por ser chamado a representar o principal papel romântico num teatro de segunda classe? E, no entanto, é verdade. Se os patifes tivessem alguma inteligência, teriam retratado ‘as relações produtivas e sociais’ de um lado e do outro, eu a teus pés. E embaixo escreveriam: ‘Olhem para esta imagem e para aquela (...)”

domingo, 14 de outubro de 2012

O casamento de Marx.


A paixão de Marx por sua Jenny foi celebrada em versos do jovem poeta, já postados neste blog. Reservei este espaço para o registro do casamento, em 19 de junho de 1843, feito por  Anna Marina Madureira em “Marx e as mulheres”.

“........ a despeito de tanto medo e insegurança, o casamento, por fim, realizou-se em condições bastante especiais. A oitenta quilômetros de Trier, no elegante balneário de Kreuznach, tendo sido acompanhado apenas pela mãe e um dos irmãos da noiva, Edgar, amigo de Karl desde a infância, além de outros poucos amigos locais. Ninguém da família Marx compareceu. Após a cerimônia, os noivos embarcaram em viagem de lua de mel pelo Reno, da qual retornaram para a casa da baronesa em Kreuznach, até que se definisse onde e quando surgiria o novo jornal que abrigaria Marx.
         Contudo, antes mesmo da definição, o casal já se mudava para Paris, cidade na qual, em 1º de maio de 1844, nasceria a primeira filha de ambos, chamada Jenny, como a mãe, porém, mais conhecida como “Jennychen”, o diminutivo do nome. Entretanto, as dificuldades iniciais com a maternidade levariam Jenny e a filha de volta a Trier, enquanto Marx permaneceria em Paris, dedicando-se ao primeiro e único número do novo jornal e iniciando-se no estudo da economia política britânica.”

domingo, 7 de outubro de 2012

Tributo a Hobsbawn,5


Boa parte da minha juventude foi marcada pela leitura das obras de Eric Hobsbawn ( 1917-2012) . Diversos posts deste blog reproduziram o pensamento de Hobsbawn em momentos diversificados dos séculos “com muro” e “sem muro”. Concluo aqui as repostagens.

A crise de 2008 e os 150 anos do Manifesto.
( 9 de outubro de 2011)
Eric Hobsawm, em entrevista concedida a  Marcelo Musto e publicada em Carta Maior, faz mais uma brilhante análise do renascimento do velho Karl, em plena crise mundial de 2008, quando se comemorava os 150 anos do Manifesto. Veja a resposta à primeira pergunta ou acesse a íntegra em
www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15253

“Há um indiscutível renascimento do interesse público por Marx no mundo capitalista, com exceção, provavelmente, dos novos membros da União Européia, do leste europeu. Este renascimento foi provavelmente acelerado pelo fato de que o 150° aniversário da publicação do Manifesto Comunista coincidiu com uma crise econômica internacional particularmente dramática em um período de uma ultra-rápida globalização do livre-mercado.
Marx previu a natureza da economia mundial no início do século XXI, com base na análise da “sociedade burguesa”, cento e cinqüenta anos antes. Não é surpreendente que os capitalistas inteligentes, especialmente no setor financeiro globalizado, fiquem impressionados com Marx, já que eles são necessariamente mais conscientes que outros sobre a natureza e as instabilidades da economia capitalista na qual eles operam.
A maioria da esquerda intelectual já não sabe o que fazer com Marx. Ela foi desmoralizada pelo colapso do projeto social-democrata na maioria dos estados do Atlântico Norte, nos anos 1980, e pela conversão massiva dos governos nacionais à ideologia do livre mercado, assim como pelo colapso dos sistemas políticos e econômicos que afirmavam ser inspirados por Marx e Lênin. Os assim chamados “novos movimentos sociais”, como o feminismo, tampouco tiveram uma conexão lógica com o anti-capitalismpo (ainda que, individualmente, muitos de seus membros possam estar alinhados com ele) ou questionaram a crença no progresso sem fim do controle humano sobre a natureza que tanto o capitalismo como o socialismo tradicional compartilharam. Ao mesmo tempo, o “proletariado”, dividido e diminuído, deixou de ser crível como agente histórico da transformação social preconizada por Marx.
Devemos levar em conta também que, desde 1968, os mais proeminentes movimentos radicais preferiram a ação direta não necessariamente baseada em muitas leituras e análises teóricas. Claro, isso não significa que Marx tenha deixado de ser considerado como um grande clássico e pensador, ainda que, por razões políticas, especialmente em países como França e Itália, que já tiveram poderosos Partidos Comunistas, tenha havido uma apaixonada ofensiva intelectual contra Marx e as análises marxistas, que provavelmente atingiu seu ápice nos anos oitenta e noventa. Há sinais agora de que a água retomará seu nível.







Tributo a Hobsbawn, 4


Boa parte da minha juventude foi marcada pela leitura das obras de Eric Hobsbawn ( 1917-2012) . Diversos posts deste blog reproduziram o pensamento de Hobsbawn em momentos diversificados dos séculos “com muro” e “sem muro”. Nos próximos dias vou repostar algumas das análises e reflexões que mais me tocaram.

Hobsbawn por inteiro  (26 de janeiro de 2011)

Por ocasião do lançamento de seu novo livro – How to change the world –Hobsbawn concedeu entrevista  ao The Guardian (publicada na FSP em 25/01/11). Publiquei 2 trechos da entrevista. Agora segue a íntegra, com destaque para a sua referência à America Latina, que não sei se elogiosa ou crítica: “Ideologicamente, hoje me sinto mais em casa na América Latina. É o único lugar no mundo em que as pessoas fazem política e falam dela na velha linguagem - a dos séculos 19 e 20, de socialismo, comunismo e marxismo.”
"Guardian" - Há no âmago desse livro um senso de algo que provou seu valor? De que, mesmo que as propostas de Marx possam não mais ser relevantes, ele fez as perguntas certas sobre o capitalismo?
Eric Hobsbawm -
Com certeza. A redescoberta de Marx está acontecendo porque ele previu muito mais sobre o mundo moderno do que qualquer outra pessoa em 1848. É isso, acredito, o que atrai a atenção de vários observadores novos -atenção essa que, paradoxalmente, surge antes entre empresários e comentaristas de negócios, não entre a esquerda.
O sr. tem a impressão de que o que pessoas como George Soros apreciam em parte em Marx é o modo brilhante com que ele descreve a energia e o potencial do capitalismo?
Acho que é o fato de ele ter previsto a globalização que os impressionou. Mas acredito que os mais inteligentes também enxergaram uma teoria que previa o risco de crises. A teoria oficial do período, fim dos anos 90, descartava essa possibilidade.

E o sr. acha que o interesse renovado por Marx também foi beneficiado pelo fim dos Estados marxistas-leninistas?
Com a queda da União Soviética, os capitalistas deixaram de sentir medo, e desse modo tanto eles quanto nós pudemos analisar o problema de maneira muito mais equilibrada. Mas foi mais a instabilidade da economia globalizada neoliberal que, creio, começou a ficar tão evidente no fim do século.
O sr. não está surpreso com o fato de a esquerda marxista e a social-democrata não terem explorado politicamente a crise dos últimos anos?
Sim, é claro. Na realidade, uma das coisas que procuro mostrar no livro é que a crise do marxismo não é só do seu braço revolucionário, mas também do seu ramal social-democrata. O reformismo social-democrático era, essencialmente, a classe trabalhadora pressionando seus Estados-nações. Com a globalização, a capacidade dos Estados de reagir a essa pressão se reduziu concretamente. Assim, a esquerda recuou.
O sr. acha que o problema da esquerda está em parte no fim da classe trabalhadora consciente e identificável?
Historicamente falando, isso é verdade. O que ainda é possível é que a classe trabalhadora forme o esqueleto de movimentos mais amplos de transformação social.
Um bom exemplo é o Brasil, que tem um caso clássico de partido trabalhista nos moldes do fim do século 19 -baseado numa aliança de sindicatos, trabalhadores, pobres em geral, intelectuais e tipos diversos de esquerda- que gerou uma coalizão governista notável. E não se pode dizer que não seja bem-sucedida, após oito anos de governo e um presidente em final de mandato [a entrevista foi feita no final de 2010] com 80% de aprovação.
Ideologicamente, hoje me sinto mais em casa na América Latina. É o único lugar no mundo em que as pessoas fazem política e falam dela na velha linguagem -a dos séculos 19 e 20, de socialismo, comunismo e marxismo.
O título de seu novo livro é "How to Change the World". No final, o sr. escreve: "A substituição do capitalismo ainda me parece possível". A esperança continua forte?
Não existe esperança reduzida hoje. O que digo agora é que os problemas do século 21 exigem soluções com as quais nem o mercado puro nem a democracia liberal pura conseguem lidar adequadamente. É preciso calcular uma combinação diferente.
Que nome será dado a isso não sei. Mas é bem capaz de não ser mais capitalismo, não no sentido em que o conhecemos aqui e nos EUA.