segunda-feira, 17 de abril de 2017

Fetichismo da mercadoria - uma recaída no hegelianismo ?

Em todos os cursinhos e palestras do Partidão nos anos 60, nunca ouvi qualquer referência à Seção 4 do primeiro capítulo do livro I de O Capital. A leitura do artigo do filósofo alemão Anselm Jappe ( Bonn, 1962 ) “Alienação, reificação e fetichismo da mercadoria”  - publicação Lumiar vol. 1, nº 2 , 1º semestre 2014, tradução Silvio Rosa Filho, revisão Jacira Freitas - ajuda a entender os bloqueios dos marxistas. A tese equivocada de que o hegelianismo seria uma postura da juventude, ainda permanece presente na maioria dos leitores de Marx. Seguem 2 trechos do artigo:

“Mesmo em autores pertencentes ao marxismo crítico, tal conceito era bem raro antes dos anos 1970. Por exemplo, nas mil páginas de A teoria da alienação de Marx de Istvan Meszaros, publicado em 1970, o “fetichismo” praticamente nunca aparece. O sub capítulo sobre “O fetichismo da mercadoria e seu segredo”, que encerra o primeiro capítulo d’O Capital, era então considerado como uma digressão tão incompreensível quanto inútil, uma recaída no hegelianismo, um capricho metafísico. Sempre é preciso lembrar que, em 1969, Louis Althusser queria proibir os leitores d’O Capital de começar pelo primeiro capítulo – no qual se inscreve a passagem sobre o fetichismo da mercadoria –, julgando-o difícil demais. O argumento de Althusser consistia em afirmar que os leitores, para melhor compreender O Capital, deveriam perceber o conflito visível entre trabalho vivo e trabalho morto como ponto de partida e “pivô” da crítica marxiana, e considerar a análise da forma-valor, com a qual se abre O Capital, somente como uma precisão suplementar, a ser aprofundada num segundo momento.”

"Se atualmente as referências ao termo “fetichismo” se tornaram mais frequentes, todavia elas não são acompanhadas de aprofundamento. Assim como o termo “sociedade do espetáculo”, o “fetichismo da mercadoria” parece resumir a baixo custo as características de um capitalismo pós- moderno que supostamente voltou-se essencialmente para o consumo, a publicidade e a manipulação dos desejos. Certo uso popular da palavra, influenciado principalmente por seu uso em psicanálise, nela enxerga somente um amor excessivo pelas mercadorias e a adesão aos valores que elas representam (velocidade, sucesso, beleza etc.).

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