domingo, 24 de junho de 2012

Marx em Maio.


 O Grupo de Estudos Marxistas - http://estudosmarxistas.wordpress.com - realizou nos dias 3, 4 e 5 de maio de 2012, na Faculdade de Letras de Lisboa o “Congresso Internacional Marx em Maio, perspectivas para o século 21”. No dizer dos organizadores, um “congresso multidisciplinar, que incluiu participantes das áreas da filosofia, da história e da economia, mas também das ciências naturais, das artes plásticas, da política e do mundo sindical, o seu fio condutor foi a atualidade e fertilidade do pensamento marxista enquanto instrumento fundamental de análise crítica”.
O site sobre o Congresso http://marxemmaio.wordpress.com/ apresenta dezenas de vídeos com palestras e entrevistas, além da íntegra dos trabalhos apresentados

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O papel do Estado na crise mundial.


Denis Collin afirma, em seu blog, que a crise financeira mundial confirma, de maneira clara, as análises do velho Karl. Segue minha tradução livre.

“A crise financeira de 2007/2008 e suas consequências confirmam de maneira clara as análises de Marx : o modo de  produção capitalista somente pode funcionar reproduzindo o capital sempre em uma escala  ampliada. Ou a busca de um processo de acumulação exige o recurso crescente ao credito e a todas as formas de investimento financeiro que permitam a distribuição, não de lucros reais, gerados no processo de produção, mas de ganhos antecipados, isto é, que não correspondam a um capital produtivo gerado pela mais valia.
É o que Marx chama de “capital fictício”. A massa do capital fictício terminou por incorporar o capital realmente investido, que é, ele mesmo, confrontado aos problemas crescentes de ajuste de valor, que Marx denominava de baixa tendencial  da taxa de lucro.
O exemplo da industria automobilística é particularmente esclarecedor para compreender, ao mesmo tempo, esta baixa das taxas de lucro e o peso crescente dos “produtos financeiros”.
Nesta situação e em uma escala gigantesca, encontramos ainda as análises de Marx sobre o papel da dívida pública na formação deste capital fictício. Que o Estado seja reduzido a “conselho de administração dos negócios comuns da burguesia” é certamente, desta maneira geral, uma concepção muito redutora. Durante as “trente glorieuses” ( obs. do tradutor: Período de grande crescimento de 1945 a 1973, nos países membros da OCDE, tb conhecido, na França, como a Revolução Invisível) o Estado foi o lugar da aposta nas lutas sociais para assegurar um desenvolvimento próximo da estabilidade do modo de produção capitalista, e  ele teve que proteger e , por vezes, organizar as conquistas sociais correspondentes às reivindicações dos assalariados.
Mas o se que chamou usando a expressão inadequada de “revolução neo-liberal” foi uma vasta operação política remetendo o Estado à sua clássica definição marxista.
A percepção da falência do sistema financeiro e sua consequência nos custos para os cidadãos acabou por reposicionar os governos como simples apoios de poder do capital financeiro.”

terça-feira, 19 de junho de 2012

Sutilezas metafísicas do fetichismo.



Denis Collin, autor de “Compreender Marx” – editora Vozes, tradução de Jaime Clasen – tem produzido excelentes textos sobre o velho Karl em seu blog denis-collin.viabloga.com. Em « O caráter fetichista das mercadorias » avalia a secção IV, primeira parte, do Livro I do Capital que considera um dos capítulos filosoficamente mais importantes da obra central de Marx. Ali, Collin faz uma análise sutil das formas em que são feitas as trocas de mercadorias e se dedica a celebrar a metafísica do dinheiro.


“Embora aparentemente trivial, uma mercadoria é, na realidade,  uma "coisa complexa, cheia de sutilezas metafísicas e argúcias teológicas." Ela oculta um segredo. Não é nem no valor de uso dos bens nem no fato de que suas características são produtos do trabalho humano.
Este segredo está na transformação a que a que estão submetidas as relações entre os indivíduos, quando o trabalho humano não é mais trabalho para as necessidades imediatas, mas o trabalho para a produção do valor de troca. Se os produtos do trabalho humano adquirem um "caráter enigmático", quando transformados em mercadoria, isto tem origem em uma tríplice metamorfose: "O caráter de igualdade dos trabalhos humanos adquire a forma de valor dos produtos do trabalho; a medida dos trabalhos individuais por sua duração, adquire a forma da grandeza dos produtos do trabalho e, finalmente, os relatórios  dos produtores nos quais se afirmam o caráter social do trabalho, adquirem a forma de um relatório social dos produtos do trabalho. "Nessa metamorfose, os produtos do trabalho são, portanto, transformados em mercadorias, isto é, diz ainda Marx," em coisas que se enquadram ou não se enquadram dentro do significado, ou coisas sociais. " Na tentativa de desvendar o mistério das mercadorias, é preciso desvendar o conjunto das relações sociais.
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Para entender como uma relação social pode assumir a forma de uma relação entre as coisas, é preciso buscar uma analogia de outro campo, "na região nebulosa do mundo religioso." Marx desenvolve assim a tese do fetiche da mercadoria: "lá os produtos do cérebro humano têm a aparência de ser independentes, dotados de corpo particular, se comunicando com homens e entre si.  São produtos feitos pela mão do homem para o mercado. Isto é o que poderíamos chamar de fetichismo agregado aos produtos do trabalho e que se apresentam como mercadorias, fetichismo inseparável desse modo de produção. "
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Quanto mais se desenvolve esta divisão do trabalho, mais ela se transforma em uma divisão global do trabalho, mais a intermediação financeira toma seu lugar no processo conjunto de produção de riqueza, mais o fetichismo do dinheiro domina os pensamentos dos atores da vida econômica. Esta é  a realidade do conjunto da vida social que é transfigurado e torna-se irreconhecível no reinado nu e cru das finanças. Até que uma crise chegue de repente a varrer este mundo ilusório e provoque  uma chamada dolorosa para o real. “