segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Carta de amor de Marx.


Decorridos treze anos de seu casamento com Jenny, Marx permanecia um apaixonado. O trecho de carta ao seu grande amor está registrado no texto “Marx e as mulheres”, da doutoranda da UFF Anna Marina Madureira de Pinho Barbara Pinheiro.
”(...) Eis que assomas diante de mim, grande como a vida, e eu te ergo nos braços e te beijo dos pés à cabeça, e me prostro de joelhos diante de ti e exclamo: ‘Senhora, eu te amo’. E amo mesmo, com um amor maior do que jamais sentiu o Mouro de Veneza. (...) Qual de meus muitos caluniadores e inimigos de língua viperina censurou-me, algum dia, por ser chamado a representar o principal papel romântico num teatro de segunda classe? E, no entanto, é verdade. Se os patifes tivessem alguma inteligência, teriam retratado ‘as relações produtivas e sociais’ de um lado e do outro, eu a teus pés. E embaixo escreveriam: ‘Olhem para esta imagem e para aquela (...)”

domingo, 14 de outubro de 2012

O casamento de Marx.


A paixão de Marx por sua Jenny foi celebrada em versos do jovem poeta, já postados neste blog. Reservei este espaço para o registro do casamento, em 19 de junho de 1843, feito por  Anna Marina Madureira em “Marx e as mulheres”.

“........ a despeito de tanto medo e insegurança, o casamento, por fim, realizou-se em condições bastante especiais. A oitenta quilômetros de Trier, no elegante balneário de Kreuznach, tendo sido acompanhado apenas pela mãe e um dos irmãos da noiva, Edgar, amigo de Karl desde a infância, além de outros poucos amigos locais. Ninguém da família Marx compareceu. Após a cerimônia, os noivos embarcaram em viagem de lua de mel pelo Reno, da qual retornaram para a casa da baronesa em Kreuznach, até que se definisse onde e quando surgiria o novo jornal que abrigaria Marx.
         Contudo, antes mesmo da definição, o casal já se mudava para Paris, cidade na qual, em 1º de maio de 1844, nasceria a primeira filha de ambos, chamada Jenny, como a mãe, porém, mais conhecida como “Jennychen”, o diminutivo do nome. Entretanto, as dificuldades iniciais com a maternidade levariam Jenny e a filha de volta a Trier, enquanto Marx permaneceria em Paris, dedicando-se ao primeiro e único número do novo jornal e iniciando-se no estudo da economia política britânica.”

domingo, 7 de outubro de 2012

Tributo a Hobsbawn,5


Boa parte da minha juventude foi marcada pela leitura das obras de Eric Hobsbawn ( 1917-2012) . Diversos posts deste blog reproduziram o pensamento de Hobsbawn em momentos diversificados dos séculos “com muro” e “sem muro”. Concluo aqui as repostagens.

A crise de 2008 e os 150 anos do Manifesto.
( 9 de outubro de 2011)
Eric Hobsawm, em entrevista concedida a  Marcelo Musto e publicada em Carta Maior, faz mais uma brilhante análise do renascimento do velho Karl, em plena crise mundial de 2008, quando se comemorava os 150 anos do Manifesto. Veja a resposta à primeira pergunta ou acesse a íntegra em
www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15253

“Há um indiscutível renascimento do interesse público por Marx no mundo capitalista, com exceção, provavelmente, dos novos membros da União Européia, do leste europeu. Este renascimento foi provavelmente acelerado pelo fato de que o 150° aniversário da publicação do Manifesto Comunista coincidiu com uma crise econômica internacional particularmente dramática em um período de uma ultra-rápida globalização do livre-mercado.
Marx previu a natureza da economia mundial no início do século XXI, com base na análise da “sociedade burguesa”, cento e cinqüenta anos antes. Não é surpreendente que os capitalistas inteligentes, especialmente no setor financeiro globalizado, fiquem impressionados com Marx, já que eles são necessariamente mais conscientes que outros sobre a natureza e as instabilidades da economia capitalista na qual eles operam.
A maioria da esquerda intelectual já não sabe o que fazer com Marx. Ela foi desmoralizada pelo colapso do projeto social-democrata na maioria dos estados do Atlântico Norte, nos anos 1980, e pela conversão massiva dos governos nacionais à ideologia do livre mercado, assim como pelo colapso dos sistemas políticos e econômicos que afirmavam ser inspirados por Marx e Lênin. Os assim chamados “novos movimentos sociais”, como o feminismo, tampouco tiveram uma conexão lógica com o anti-capitalismpo (ainda que, individualmente, muitos de seus membros possam estar alinhados com ele) ou questionaram a crença no progresso sem fim do controle humano sobre a natureza que tanto o capitalismo como o socialismo tradicional compartilharam. Ao mesmo tempo, o “proletariado”, dividido e diminuído, deixou de ser crível como agente histórico da transformação social preconizada por Marx.
Devemos levar em conta também que, desde 1968, os mais proeminentes movimentos radicais preferiram a ação direta não necessariamente baseada em muitas leituras e análises teóricas. Claro, isso não significa que Marx tenha deixado de ser considerado como um grande clássico e pensador, ainda que, por razões políticas, especialmente em países como França e Itália, que já tiveram poderosos Partidos Comunistas, tenha havido uma apaixonada ofensiva intelectual contra Marx e as análises marxistas, que provavelmente atingiu seu ápice nos anos oitenta e noventa. Há sinais agora de que a água retomará seu nível.







Tributo a Hobsbawn, 4


Boa parte da minha juventude foi marcada pela leitura das obras de Eric Hobsbawn ( 1917-2012) . Diversos posts deste blog reproduziram o pensamento de Hobsbawn em momentos diversificados dos séculos “com muro” e “sem muro”. Nos próximos dias vou repostar algumas das análises e reflexões que mais me tocaram.

Hobsbawn por inteiro  (26 de janeiro de 2011)

Por ocasião do lançamento de seu novo livro – How to change the world –Hobsbawn concedeu entrevista  ao The Guardian (publicada na FSP em 25/01/11). Publiquei 2 trechos da entrevista. Agora segue a íntegra, com destaque para a sua referência à America Latina, que não sei se elogiosa ou crítica: “Ideologicamente, hoje me sinto mais em casa na América Latina. É o único lugar no mundo em que as pessoas fazem política e falam dela na velha linguagem - a dos séculos 19 e 20, de socialismo, comunismo e marxismo.”
"Guardian" - Há no âmago desse livro um senso de algo que provou seu valor? De que, mesmo que as propostas de Marx possam não mais ser relevantes, ele fez as perguntas certas sobre o capitalismo?
Eric Hobsbawm -
Com certeza. A redescoberta de Marx está acontecendo porque ele previu muito mais sobre o mundo moderno do que qualquer outra pessoa em 1848. É isso, acredito, o que atrai a atenção de vários observadores novos -atenção essa que, paradoxalmente, surge antes entre empresários e comentaristas de negócios, não entre a esquerda.
O sr. tem a impressão de que o que pessoas como George Soros apreciam em parte em Marx é o modo brilhante com que ele descreve a energia e o potencial do capitalismo?
Acho que é o fato de ele ter previsto a globalização que os impressionou. Mas acredito que os mais inteligentes também enxergaram uma teoria que previa o risco de crises. A teoria oficial do período, fim dos anos 90, descartava essa possibilidade.

E o sr. acha que o interesse renovado por Marx também foi beneficiado pelo fim dos Estados marxistas-leninistas?
Com a queda da União Soviética, os capitalistas deixaram de sentir medo, e desse modo tanto eles quanto nós pudemos analisar o problema de maneira muito mais equilibrada. Mas foi mais a instabilidade da economia globalizada neoliberal que, creio, começou a ficar tão evidente no fim do século.
O sr. não está surpreso com o fato de a esquerda marxista e a social-democrata não terem explorado politicamente a crise dos últimos anos?
Sim, é claro. Na realidade, uma das coisas que procuro mostrar no livro é que a crise do marxismo não é só do seu braço revolucionário, mas também do seu ramal social-democrata. O reformismo social-democrático era, essencialmente, a classe trabalhadora pressionando seus Estados-nações. Com a globalização, a capacidade dos Estados de reagir a essa pressão se reduziu concretamente. Assim, a esquerda recuou.
O sr. acha que o problema da esquerda está em parte no fim da classe trabalhadora consciente e identificável?
Historicamente falando, isso é verdade. O que ainda é possível é que a classe trabalhadora forme o esqueleto de movimentos mais amplos de transformação social.
Um bom exemplo é o Brasil, que tem um caso clássico de partido trabalhista nos moldes do fim do século 19 -baseado numa aliança de sindicatos, trabalhadores, pobres em geral, intelectuais e tipos diversos de esquerda- que gerou uma coalizão governista notável. E não se pode dizer que não seja bem-sucedida, após oito anos de governo e um presidente em final de mandato [a entrevista foi feita no final de 2010] com 80% de aprovação.
Ideologicamente, hoje me sinto mais em casa na América Latina. É o único lugar no mundo em que as pessoas fazem política e falam dela na velha linguagem -a dos séculos 19 e 20, de socialismo, comunismo e marxismo.
O título de seu novo livro é "How to Change the World". No final, o sr. escreve: "A substituição do capitalismo ainda me parece possível". A esperança continua forte?
Não existe esperança reduzida hoje. O que digo agora é que os problemas do século 21 exigem soluções com as quais nem o mercado puro nem a democracia liberal pura conseguem lidar adequadamente. É preciso calcular uma combinação diferente.
Que nome será dado a isso não sei. Mas é bem capaz de não ser mais capitalismo, não no sentido em que o conhecemos aqui e nos EUA.



sábado, 6 de outubro de 2012

Tributo a Hobsbawn, 3


Boa parte da minha juventude foi marcada pela leitura das obras de Eric Hobsbawn ( 1917-2012) . Diversos posts deste blog reproduziram o pensamento de Hobsbawn em momentos diversificados dos séculos “com muro” e “sem muro”. Nos próximos dias vou repostar algumas das análises e reflexões que mais me tocaram.

As 4 conquistas permanentes do marxismo.
(15 de janeiro de 2012)

No dia de seu 94º aniversário – 9 de junho de 2011 – Eric Hobsbwam concede entrevista ao blog Beppe Grillo, a propósito do lançamento da versão italiana de seu último livro (How to Change the World - Why rediscover the inheritance of Marxism). Na entrevista, Hobsbawm fala da ascensão da direita na Europa ( faz previsão – confirmada – da derrota da esquerda na Espanha) e apresenta as quatro conquistas permanentes do marxismo. Destaca como a mais relevante, a análise de como o modo capitalista de produção operou e de seu desenvolvimento. Enfatiza o “descontínuo modo através do qual o sistema cresceu e desenvolveu contradições, que por sua vez produziram grandes crises”. E conclui apresentando uma conquista que “Marx talvez não reconhecesse – mas que esteve sempre presente no marxismo: um elemento de utopia”.

“........ no momento, o marxismo deixou de ser o principal sistema de crenças associado aos grandes movimentos políticos de massa em toda a Europa. Apesar disso, acho que sobrevivem alguns pequenos movimentos marxistas. Nesse sentido, houve uma grande mudança no papel político que o marxismo desempenha na política da Europa. Há algumas partes do mundo, por exemplo, a América Latina, em que as coisas não se passaram do mesmo modo. A consequência daquela mudança, na minha opinião, é que agora todos podemos concentrar-nos mais e melhor nas mudanças permanentes que o marxismo provocou, nas conquistas permanentes do marxismo. 
Essas conquistas permanentes, na minha opinião, são as seguintes:
Primeiro, Marx introduziu algo que foi considerado novidade e ainda não se realizou completamente, a saber, a crença de que o sistema econômico que conhecemos não é permanente nem destinado a durar eternamente; que é apenas uma fase, uma etapa no desenvolvimento histórico que acontece de um determinado modo e deixará de existir e converter-se-á noutra coisa ao longo do tempo. 
Segundo, acho que Marx concentrou-se na análise do específico modus operandi, do modo como o sistema operou e se desenvolveu. Em particular, concentrou-se no curioso e descontinuo modo através do qual o sistema cresceu e desenvolveu contradições, que por sua vez produziram grandes crises.
A principal vantagem da análise que o marxismo permite fazer é que considera o capitalismo como um sistema que origina periodicamente contradições internas que geram crises de diferentes tipos que, por sua vez, têm de ser superadas mediante uma transformação básica ou alguma modificação menor do sistema. Trata-se desta descontinuidade, desta assunção de que o capitalismo opera não como sistema que tende a se auto-estabilizar, mas que é sempre instável e eventualmente, portanto, requere grandes mudanças. Esse é o principal elemento que ainda sobrevive do marxismo. 
Terceiro, e acho que aí está a preciosidade do que se poderá chamar de fenômeno ideológico, o marxismo é baseado, para muitos marxistas, num senso profundo de injustiça social, de indignação contra a desigualdade social entre os pobres e os ricos e poderosos. 
Quarto, e último, acho que talvez se deva considerar um elemento – que Marx talvez não reconhecesse – mas que esteve sempre presente no marxismo: um elemento de utopia. A crença de que, de um modo ou de outro, a sociedade chegará a uma sociedade melhor, mais humana, do que a sociedade na qual todos vivemos atualmente. 
Íntegra da entrevista no blog lisboeta:
http://www.esquerda.net/artigo/marxismo-hoje-entrevista-eric-hobsbawm


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Tributo a Hobsbawn, 2


Boa parte da minha juventude foi marcada pela leitura das obras de Eric Hobsbawn ( 1917-2012) . Diversos posts deste blog reproduziram o pensamento de Hobsbawn em diversos momentos dos séculos “com muro” e “sem muro”. Nos próximos dias vou repostar algumas das análises e reflexões que mais me tocaram.

O socialismo fracassou e o capitalismo quebrou. O que virá a seguir?
(15 de outubro de 20110
Artigo de Hobsbawm, no The Guardian, tenta responder a pergunta acima.
A prioridade seria não o aumento do lucro e do consumo, mas a ampliação das oportunidades e capacidades de todos por meio da ação coletiva. Isso significa iniciativa pública sem fundamento na busca do lucro. Decisões orientadas para as melhorias sociais coletivas, com ganho para todos. Hobsbawm encerra o texto tomando como exemplos Londres e a crise do meio ambiente.

“Tomemos o caso de Londres. É evidente que importa a todos nós que a economia de Londres floresça. Mas a prova de fogo da enorme riqueza gerada em algumas partes da capital não é que tenha contribuído com 20 ou 30% do PIB britânico, mas sim como afetou a vida de milhões de pessoas que ali vivem e trabalham. A que tipo de vida têm direito? Podem se permitir a viver ali? Se não podem, não é nenhuma compensação que Londres seja um paraíso dos muito ricos. Podem conseguir empregos remunerados decentemente ou qualquer tipo de emprego? Se não podem, de que serve jactar-se de ter restaurantes de três estrelas Michelin, com alguns chefs convertidos eles mesmos em estrelas. Podem levar seus filhos à escola? A falta de escolas adequadas não é compensada pelo fato de que as universidades de Londres podem montar uma equipe de futebol com seus professores ganhadores de prêmios Nobel.
A prova de uma política progressista não é privada, mas sim pública. Não importa só o aumento do lucro e do consumo dos particulares, mas sim a ampliação das oportunidades e, como diz Amartya Sen, das capacidades de todos por meio da ação coletiva. Mas isso significa – ou deveria significar – iniciativa pública não baseada na busca de lucro, sequer para redistribuir a acumulação privada. Decisões públicas dirigidas a conseguir melhorias sociais coletivas com as quais todos sairiam ganhando. Esta é a base de uma política progressista, não a maximização do crescimento econômico e da riqueza pessoal.
Em nenhum âmbito isso será mais importante do que na luta contra o maior problema com que nos enfrentamos neste século: a crise do meio ambiente. Seja qual for o logotipo ideológico que adotemos, significará um deslocamento de grande alcance, do livre mercado para a ação pública, uma mudança maior do que a proposta pelo governo britânico. E, levando em conta a gravidade da crise econômica, deveria ser um deslocamento rápido. O tempo não está do nosso lado.”


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Tributo a Hobsbawn, 1


Boa parte da minha juventude foi marcada pela leitura das obras de Eric Hobsbawn ( 1917-2012) . Diversos posts deste blog reproduziram o pensamento de Hobsbawn em diversos momentos dos séculos “com muro” e “sem muro”. Nos próximos dias vou repostar algumas das análises e reflexões que mais me tocaram.
Hobsbawn e o fim da “fé na URSS”. ( 26 de fevereiro de 2011)

Em 1971, Hobsbawn  - “Os Intelectuais e a luta de classes” – marca a diferença entre os revolucionários dos anos 60/70 e os de sua geração. Já no início dos anos 70 a fé na “grande revolução de outubro” havia desaparecido – bem antes do desmoronamento do muro, em 89. Selecionei um pequeno trecho:
“ Há, contudo, uma diferença notável entre o novo movimento revolucionário e o da minha geração, nos anos entre guerras. Contávamos, talvez erroneamente, com uma esperança e um modelo concreto de uma sociedade alternativa : o socialismo. Hoje em dia essa fé na grande Revolução de Outubro e na União Soviética desapareceu em grande parte – esta é uma observação de fato, não um juízo – e nada a substituiu. Porque, embora os novos revolucionários busquem possíveis modelos e objetos de lealdade, nenhum dos regimes revolucionários pequenos e localizados – Cuba, Vietnã do Norte, Coréia do Norte ou qualquer outro, mesmo a própria China – representa hoje o que a União Soviética significou em minha época.”
Uma observação: Coréia do Norte a parte, onde Hobsbawn encontraria hoje “regimes revolucionários pequenos e localizados”? A ilha do Caribe, por exemplo, aguarda o óbito do seu carismático líder para acelerar o processo de “abertura”. Dois sintomas da “febre capitalista” da China: 1. Em 2010, o faturamento dos Cassinos de Macau foi quatro vezes os de Las Vegas; 2. Também no ano passado, a China foi maior importador de vinhos de Bordeaux – 20 milhões de litros.